«Quero ter em mente uma biblioteca inteira», repetias tu muitas vezes, enquanto te exercitavas, «de outro modo corro o risco de me convencer que o mundo só é feito de dormir, comer, fazer sexo, morrer.»
- E que mal tem isso? Não são coisas que também nós fazemos? - perguntei-te.
-Se é isso, também os cães o fazem, e os melros, e os orangotangos. Desde répteis até cima, todas as vidas são monótonas.
-E então?
-Então temos de aprender a ver a filigrana, aquilo que está escondido na parte mais secreta dos dias.
-E isso não diz respeito aos cães?
-Os cães não têm necessidade. Tal como não têm as folhas de erva, nem as carriças, nem os sapos. Todos eles vivem já imersos no rio da Sabedoria. Só nós é que temos de ir em busca.»

in Tamaro, Susanna "Para Sempre", EDITORIAL PRESENÇA, Lisboa 2011 Tradução Maria de Mercês Peixoto

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